Para além das duas obras da graça

Publicado originalmente no ARAUTO DE SANTIDADE (15 DE JULHO DE 1982)
Por W. T. Purkiser

Teorícamente, sempre temos crido que a santidade é uma crise e um processar, uma obra instantânea e um progrâma para toda a vida. Praticamente, é possível termos descurado o significado dò crescimento na graça. Em conse-quênciá disso, muitos actuam como se a inteira sántificaçaó fosse a meta e não o caminho para o infinito.

Admitamos que, por vezes, pregamos desta forma. Estamos tão ansiosos que o nosso povo experimente a segunda bênção que nada lhe dizemos acerca do que iniciam. Fazemos assim da santidade um fim em vez dum ponto de partida, um limite em vez dum guia para a jornada.

Sem diminuir á insistência sobre a obra divina pela qual o coração do crente é purificado e cheio com poder e amor perfeito, prestemos mais atenção à obra divina em que o santificado é dirigido a um maior entendimento, amor, fé, estabilidade e santidade. Talvez estas palavras de Paulo nos ajudem: “Fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança” (Efésios 1:13-14). O “penhor” é o depósito, garantia daquilo que se segue.

Este é o desafio para uma vida santa além da conversão e da inteira santificação. Embora difícil de compreender, a Bíblia compara a relação entre Cristo e o Seu povo santificado com a que existe entre o marido e a esposa: “Maridos, amai as vossas mulheres, como, também. Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Efésios 5:25-26).

Quer dizer que a experiência da graça santifica-dora no altar é apenas a boda. A vida subsequente é o matrimónio. Evidentemente, o matrimónio consiste em muito mais que uma simples cerimónia de casamento. O verdadeiro valor da cerimónia demostra-se através dos anos de companheirismo e dedicação.

O cristão santificado falha quando não se propõe crescer continuaménte! Um dos fundadorés duma igréjá de santidade disse: “Quem pensa ter tanto de Deus que já nãó precisa màís, de certo que perdeu de vista a diferença entre o finito è o infinito. Ao nascer, uma criança pode parecer-se com o pai, mas no seu estado físico, mental e móral não se lhe pode comparar”.

O crescimento na graça santificadora deve prosseguir em certas áreas. Uma delas é mencionada pelo apóstolo Pedro: “Antes, crescei na graça e conhecimento do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (II Pedro 3:18). Cresçamos em compreensão espiritual e no conhecimento da relação entre Deus e os homens.

Obtém-se certa compreensão pela experiência, via difícil mas necessária. Porém, a maior parte conseguimo-la pelo estudo sistemático da Palavra de Deus, pregação e leitura de livros e revistas devocionais. A parte mais importante obtemo-la directamente do Espírito Santo, cuja missão é a de ensinar e guiar em toda a verdade.

Podemos crescer em amor e compaixão, João Wesley escreveu: “Portanto, firma o teu coração em que desde o momento que Deus te salvou de todos os teus pecados, deves aspirar só ao amor e nada mais que ao amor que se descreve no capítulo 13 de I Corintios”.

No que Edwin C. Lwis chamou “a lógica do amor” se situa a verdade de que o amor é capaz de ser ao mesmo tempo perfeito e progressivo. Se não cresce não é perfeito, porque o amor que não se aprofunda e amplia, está em vias de se tornar indiferente e de desaparecer.

Finalmente, podemos crescer na quase indefinível excelência de carácter que se denomina semelhança com Cristo ou santidade. Este conceito é difícil de expressar mas fácil de reconhecer. Consiste num espírito radiante, serenidade de alma, preocupação crescente e altruísta por outras pessoas, desejo de ajudar e compartir, amabilidade e considerãção pelos que nos rodeiam. Diz-se que o alvõ dos primeiros cristaos era “rénunciar a médiocridàde e ambicionar a santidade”. Áquèle qué deséjà a santidade de coração e vida, nunca será medíòcre. Os sàntòs genuinos sào “artigo raro e valioso”.

Se não olharmos para além das duas obras da graça, cairemos numa armadilha subtil do inimigo. Criticamos outros e exigimos muito deles, mas somos negligentes conosco. Irwin Brown descreveu outros conceitos sobre a santidade:

“Ao observar as condições actuais da vida cristã convenço-me que, em teoria, permitimos as deficiências dos recém-convertidos, mas na prática estamos prontos a condená-los. A nossa teologia fracassa no campo da experiência. Por isso, muitos recém-convertidos perdem a fé: têm de enfrentar não só tentações e erros, mas também o mau acolhimento de outros cristãos. Exigese deles mais do que podem dar. Queremos que se comportem como cristãos maturos, quando ainda são crianças em Cristo. Esperamos que mastiguem alimentos sólidos, quando só podem tomar o leite da Palavra.”

Geralmente, também caímos no duplo erro da complacência e da satisfação perante os nossos próprios fracassos. Somos capazes de dar graças a Deus por não sermos como os outros; no entanto, estamos longe de ser o que devíamos. Um sinal inequívoco de imaturidade é pretender mais sabedoria do que a que se possui na realidade.

Agradeçamos a Deus pelas duas obras da graça que resolvem o problema do pecado interno e externo. Mas não percamos de vista o que nos falta. A conversão e a inteira santificação determinam um alvo a atingir, mas também o princípio duma jornada espiritual.

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